No coração do Brasil, mais precisamente no interior do estado de Goiás, encontra-se uma trilha singular que combina aventura, natureza e poesia: o Caminho de Cora Coralina. Com um percurso autoguiado de 300 quilômetros, essa rota atravessa oito cidades, oito povoados e cinco unidades de conservação, desafiando os aventureiros de plantão a explorar as belezas do cerrado enquanto mergulham na cultura e história da região.
Podendo ser feito de bicicleta, com duração média de seis dias, ou a pé, em um trajeto que leva cerca de catorze dias, a trilha tem como proposta uma imersão completa no cerrado, passando por campos abertos, matas fechadas, centros urbanos e cidades históricas.
Origem
Idealizado em 2013, o projeto surgiu com o propósito de interligar rotas já percorridas por viajantes, caminhantes e ciclistas que cruzavam municípios, povoados, fazendas e atrações do interior goiano. Para traçar o percurso, foram utilizados documentos históricos e obras literárias que registram expedições pela região.
Em 2017, o projeto recebeu o apoio da Agência Estadual de Turismo para sua estruturação, essa parceria possibilitou a inclusão de Parques Estaduais e Unidades de Conservação ao roteiro. Todo o percurso foi sinalizado, e pontos de apoio para os trilheiros foram construídos ao longo do caminho. Uma série de poemas de Cora Coralina foram inseridos no trajeto, transformando a aventura em uma verdadeira experiência literária, onde a poesia se entrelaça com a natureza.
Mas quem foi Cora Coralina?
Cora Coralina, uma das mais emblemáticas vozes da literatura brasileira, nasceu na Cidade de Goiás — ponto final da caminhada que leva seu nome. Foi apenas em 1956, aos 76 anos, que publicou seu primeiro livro: Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Apesar da publicação tardia, sua obra conquistou reconhecimento nacional, especialmente após sua morte, consolidando Cora como símbolo da sensibilidade, resistência e profunda conexão com as raízes do interior brasileiro.
Seu verdadeiro nome era Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mas adotou o pseudônimo Cora Coralina ainda aos 14 anos. Foi nessa fase da vida que começou a escrever não só poemas, mas também contos, brasilianas e sonetos. A forte influência da cultura regional e da brasilidade é a marca registrada de suas obras, que retratam com sensibilidade as tradições, o cotidiano e a alma do interior do Brasil.
Os Pontos Altos da Trilha
A trilha tem seu início no município de Corumbá de Goiás, onde será possível apreciar a Serra dos Pirineus. Nesta localização encontra-se o pico mais alto do grande divisor da Bacia Amazônica e da Bacia do Prata, enriquecendo a paisagem com belas cachoeiras. O trilheiro seguirá rumo a Pirenópolis, uma cidade histórica única e inesquecível, e depois de alguns dias, sua recompensa será a belíssima Cidade de Goiás, local de ótima gastronomia, incalculável valor histórico e exuberantes vistas.

A aventura torna-se ainda mais rica com a passagem por povoados, por exemplo, o Povoado de Caxambú. Conhecido por sua rica herança cultural e calorosa receptividade dos moradores, Caxambú oferece aos viajantes uma experiência autêntica e envolvente. O Parque Estadual do Jaraguá, juntamente com as quatro outras Unidades de Conservação, completam a inigualável experiência.
Preço e Locomoção
Todo o percurso pode ser feito gratuitamente, porém, a Associação do Caminho de Cora Coralina oferece alguns produtos, sendo o mais comprado pelos trilheiros, o “Passaporte do Peregrino”. Este é um pequeno caderno onde será carimbado, em pontos específicos espalhados por todo percurso, o registro de rota, servindo posteriormente como uma lembrança para o aventureiro. Além disso, algumas empresas de turismo da região oferecem serviço de guia e apoio para toda a trilha.
A melhor forma de chegar até o local é pousando no aeroporto de Goiânia. Da capital a locomoção pode ser feita por transfer ou ônibus, tendo como destino o município de Corumbá de Goiás, onde a trilha será iniciada. Também existe a possibilidade de pousar no aeroporto de Brasília.
Cuidados Importantes
Recomenda-se que a trilha seja feita em grupo. Mesmo que parte do caminho seja movimentado e cercado por casas e fazendas, ainda sim, fazer longas trilhas sozinho pode ser perigoso. Ainda que, todo o caminho seja autoguiado e sinalizado, recomenda-se também o uso de GPS e mapa de apoio.
Lembre-se que, o roteiro prevê alguns momentos de Camping Selvagem, se prepare com barraca, sacos de dormir e lanternas. Evite caminhadas noturnas e de preferência para os meses de julho e agosto por conta de suas poucas chuvas.
Sempre esteja com água e refeições leves em sua mochila. Utilize botas e bastão de trilha para evitar problemas com animais peçonhentos, comuns nesta região. Kit de primeiros socorros, filtro solar e saco de lixo são também indispensáveis. Mas cuidado, bagagem muito pesada só irá te atrapalhar.
Que tal embarcar nesta aventura que une literatura e natureza? Avante para o próximo destino, viajante!